domingo, 26 de dezembro de 2010

Cream - Disraeli Gears (1967)





















Cream é o resultado da união entre alguns dos melhores músicos de blues da década de sessenta, um supergrupo formado com a intenção de dar o seu melhor. Jack Bruce (vocal principal, baixo), Ginger Baker (vocais ocasionais, bateria), e Eric Clapton (vocais secundários, guitarra) lançaram 4 álbuns de estúdio no papel do Cream; Disraeli Gears é seu segundo álbum. Aqui é acrescentado um pouco mais de psicodelia, à la I Feel Free do debut, misturado ao blues-rock característico da banda. O resultado é um álbum clássico, que serve de referência até os dias de hoje.

Strange Brew. Guitarra bem bluesista, com excelentes solos e o baixo destacado de Jack, além das letras que falam de uma paixão em uma forma psicodélica, linha que se segue em praticamente todas as músicas do LP.
 
Sunshine of Your Love. Mais que um clássico, contém um dos riffs mais conhecidos do mundo. Tem a lírica romântica também, com um excelente groove entre a banda, e destaque para o maravilhoso solo, que ao vivo a improvisação chega ao triplo da duração padrão. "It's gettin' near dawn, When lights close their tired eyes. I'll soon be with you my love, To give you my dawn surprise."

World of Pain. De fato, uma música muito depressiva. Talvez de certo modo estivesse expressando o que a banda sentia em relação a sua época. Muito psicodélica também.

Dance The Night Away. "Gonna build myself a castle, High up in the clouds, There'll be skies outside my window, Lose these streets and crowds". Talvez a música mais psicodélica do LP, até mais que Tales Of Brave Ulysses. Líricas puramente LSD-like misturadas com afastamento paixonal. Riffs grudentos e tem solos bem bacanas.

Blue Condition. Uma das poucas música da banda que Ginger Baker canta, é excelente, menos psicodélica no geral e mais bluesista com rock 'n' roll. Puro blues-rock.

Tales Of Brave Ulysses. A intro com pedal wah-wah na guitarra de Clapton é magnífica e inovadora, e toda a psicodelia ambiental e lírica presente no LP está aqui; o conjunto no total é maravilhoso. Excelente faixa.

Swlabr. A guitarra de Clapton está muito bem aplicada aqui, com riffs de blues antigos distorcidos a bem o estilo do Cream.

We're Going Wrong. Outra música depressiva. Líricas sobre uma catarse de saída da matrix, romântica, ou alguma merda do tipo. É muita LSD até pra mim.

Outside Woman Blues. Blues-rock total. Como Swlabr, antigos riffs de blues distorcidos são aplicados pra criação de um outro riff fantástico. O solo apesar de fácil e pequeno, é muito bem aplicado e é excelente.

Take It Back. Não sei nem se posso considerar blues-rock essa música, está mais pra blues puro mesmo. Pura ritma bluesista, e diferente das outras músicas, foge da lírica romântica. Excelente groove musical.

Mother's Lament. Um dos poucos pontos baixos do LP, é só uma poesia/prosa recitada por Ginger Baker ao som de um teclado. Bem fraquinha a música. Porém, fica claro que é uma homenagem de certa forma às bandas que inspiraram o Cream.

É uma pena que a banda durou tão pouco tempo, mas as brigas constantes entre os integrantes acabou levando a esse fim. Até mesmo quando se reuniram em 2005 para alguns shows, eles ainda brigaram. Talvez o Cream seja algo que simplesmente não era para existir, mas marcou uma época de qualquer forma. Enfim, nota final: 8,5/10.

Tracklist:
  1. "Strange Brew" - 2:46
  2. "Sunshine of Your Love" - 4:10
  3. "World of Pain" - 3:03
  4. "Dance the Night Away" - 3:34
  5. "Blue Condition" - 3:29
  6. "Tales Of Brave Ulysses" - 2:46
  7. "Swlabr" - 2:32
  8. "We're Going Wrong" - 3:26
  9. "Outside Woman Blues" - 2:24 
  10. "Take It Back" - 3:05
  11. "Mother's Lament" - 1:47










quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Electric Wizard - Black Masses (2010)




















E o Electric Wizard nos surpreende denovo. Depois de Witchcult Today, que é puro Black Sabbath, onde muitos fãs não gostaram do estilo diferente que a banda adotou se comparado ao Dopethrone, Black Mass, lançado em novembro de 2010, está uma mistura dos dois e de vários outros LPs da banda. O LP está muito psicodélico, mais drone, um pouco menos doom, mais stoner, mais noise, com vocais ácidos, distorções na guitarra de Liz, ruídos variados.

Black Mass. “Hear me Lucifer, Black Mass, Black Mass, Take me Higher, Higher, Black Mass, Black Mass.” é o trecho suficiente para se amar essa faixa. E o que ocorre por toda a música também: uma grande interação, criado pelas guitarras low-tuned e por um baixo tão profundo que facilmente faz vibrar tudo que está por perto. Nota-se, no entanto, algo um pouco diferente: a velocidade. A composição está definitivamente mais rapida. É uma excelente balada inicial; dela jorram múltiplos cenários do estilo de H.P. Lovecraft, abrindo os portões do ocultismo.

Venus In Furs. Esta faixa mantém o mesmo clima de Black Mass, destacando-se a voz de Jus, onde se dá até a sensação de que o líder de Electric Wizard está numa tumba. É também impossível ficar indiferente aos solos que vão surgindo aqui e ali, como pequenos presentes amaldiçoados. Não há dúvida de que tanto Oborn, como Liz Buckingham, tiveram bastante cuidado na criação de verdadeiros momentos psicadélicos. Em suma, Venus In Furs é um tributo emblemático à magia negra, com o seu final a engolir quem a ouve, como se de um buraco negro se tratasse.

The Nightchild. Esta música é a volta da formula doom, tão característica do álbum homónimo de estreia. O feeling old-school que a música tem é, no entanto, aprimorado por uma composição mais trabalhada e não tão "direto na sua cara", como acontecia no início de carreira. Electric Wizard não se preocupa, hoje em dia, somente com o riff e com a distorção; há um claro enfoque na atmosfera e na envolvência do ouvinte, algo que fica bem claro na série de ruídos que se vão ouvindo, enquanto Jus repete a frase “under the black sun”… The Nightchild acaba por se desfazer num imenso lago de efeitos. Destaque também para as poderosas linhas de baixo de Tas, ele que faz a sua estreia na gravação de um LP do Electric Wizard. 

Patterns of Evil. Essa música volta a acentuar o ritmo mais veloz que os britânicos escolheram para este álbum. Iniciada com um brutal riff arrancado de cordas com toms tão abaixo do padrão que quase parecem cordas de um varal, esta música tem como ponto alto os excelentes solos, carregadinhos de efeitos alucinógenos. Pura descarga psicadélica, que nos deixa ofegantes e anestesiados. E o que vem a seguir exige preparação mental.

Satyr IX. De longe, um dos melhores momentos que Black Masses tem para oferecer. São dez minutos de puro transe, onde vibrações em série se entranham numa bateria ritualista/tribal, proporcionada por Shaun Rutter – outro debutante nas gravações com o Electric Wizard. Somos colocados numa floresta a céu aberto, prontos a testemunhar uma cerimónia satânico-medieval.

Turn Off Your Mind. Na mesma linha de Patterns of Evil, é um hino aos pais Black Sabbath, um hino onde o fuzz se acumula em várias camadas, e onde diversos samples são adicionados, criando novamente um final “de buraco negro”, como em Venus In Furs. Cheira a casaco de couro, cheira a 70’s e para isso muito contribui o tom de voz de Jus.

Scorpio Curse. Uma música que poderia estar perfeitamente no alinhamento de Witchcult Today. Riff melódico, lento, grudento, inserido numa estrutura prazerosa e profunda o suficiente para fazer de Scorpio Curse uma das faixas principais de Black Masses. Scorpio atua como o verdadeiro termino musical do álbum, já que Crypt of Drugula são nove minutos de drone embrulhado num intenso background, onde o som dos trovões e da chuva assumem o papel principal – o que revela, claramente, que a atmosfera foi um dos pontos mais bem trabalhados pelos ingleses. Conclui-se assim a resenha de um dos lançamentos mais aguardados de 2010.

Para quem não conhece ainda a banda, esse disco é minha recomendação pra se começar a ouvir os caras. CD da mais alta qualidade stoner/doom metal que tem por aí. Turn off your mind, e aproveitem o disco!

Nota: 9/10.

Tracklist:
  1. "Black Mass" - 6:06
  2. "Venus in Furs" - 6:22
  3. "The Nightchild" - 8:02
  4. "Patterns of Evil" - 6:30
  5. "Satyr IX" - 9:58
  6. "Turn Off Your Mind" - 5:51
  7. "Scorpio Curse" - 7:31
  8. "Crypt of Drugula" - 8:49